Casa de Sil de Polaris

Porque não se fica velho duas vezes !!!

Nome:
Local: Brazil

Eu sou proprietária dessa casinha magnífica que tem sofrido reformas ... ^^

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Eu adorava ouvir minha avó falar "decerto" quando respondia a alguma pergunta que eu havia feito, pois eu achava aquele jeitinho como ela falava essa palavra uma gracinha. Mas fazia muito tempo que ela não falava assim. Eu adorava ouvir minha avó falar sobre laranjas quando tratava de diferenciá-las com gestos e palavras, dizendo que eram de outra "qualidade", pois eu achava aquele jeitinho como ela falava sua explicação uma gracinha. Mas fazia muito tempo que ela não falava assim. Eu encontrei uma receita de bolo em seu caderno de receitas uma vez, quando eu folheava-o a propósito de nada. Era um bolo de laranja, cuja receita minha tia preferida reconheceu como sendo de um bolo de laranja que minha avó fazia desde que suas filhas eram pequenas. Era um bolo de laranja que eu adorava comer, com muita e muita gulodice, quando eu era pequena. Minha avó batizou sua receita sem nome de bolo de laranja de "Bolo Sílvia" por essa razão. Eu descobri esse acontecimento há pouco tempo, quando eu era adulta há anos. Eu estive cuidando de minha avó cada vez mais e mais, há mais de cinco anos e meio, desde que meu avô faleceu, e vi sua cabecinha sofrer com acidentes e incidentes, com sua idade avançada e sua saúde precária, fazendo sua memória esquecer fatos e lembranças e misturar suas filhas com seus irmãos como se todos fossem seus filhos. Ela não estava ouvindo bem e vendo bem, prisioneira de seu corpo cada vez mais, mal podendo mover-se por centímetros deitada em sua cama sem ajuda de alguém. Cuidar de minha avó teria sido muito mais simples para mim se duas de suas quatro filhas não tivessem sido tão egoístas, chegando a pensar em interná-la em um asilo porque isto era mais fácil que ceder-lhe um dia por semana de suas vidas para estar com ela e não sobrecarregar a mim, à minha mãe, à minha tia preferida como estava acontecendo há quase seis anos consecutivos. Mas essa ajuda, com esta disposição, jamais aconteceu.


Eu saí de casa de meus pais, deixando cunhada, irmão, mãe, pai, sobrinha, sobrinho, um quarto particular com tudo o que significasse liberdade e privacidade para trás, cada vez mais, por escolha própria - que foi muito explorada pelas minhas duas tias egoístas, diretamente e indiretamente, cada vez mais, com e sem minha permissão - porque eu não era capaz de abandonar e esquecer minha avó sem cuidados em sua casa como elas eram capazes de abandonar e esquecer sua mãe, ora pelo egoísmo de cuidar de sua família, como se sua mãe tivesse deixado de ser de sua família após ambas casarem-se e mudarem-se, ora porque seu interesse maior estava em regar um vaso ou varrer um tapete em sua casa própria, sem sequer cogitar por meio segundo que uma senhora de oitenta e oito anos de idade, que gestara e parira a ambas, dando-lhe de seu leite, fosse tão praga quanto fosse também mas sendo sua mãe, valeria mais que um tapete ou um vaso. Havia uma idéia, minha e nossa, ou seja, minha e de minha mãe e de minha tia preferida, de que nós cinco (eu, mãe, tias) poderíamos cuidar de minha avó juntas, com cada uma responsabilizando-se por um dia por semana pelos dias úteis, intercalando-nos pelos fins de semana, para que todas cuidassem de minha avó e todas tivessem seu tempo de lazer e seu tempo de trabalho. Mas isso foi uma ilusão muito doce, acalentada pelos anos afora, de que perdi toda minha esperança em meu último segundo, quando minhas duas tias egoístas não pronunciaram-se, sequer dando luxo de sua presença em algum lugar, pelo que eu e minha mãe e minha tia preferida começamos a conversar sozinhas a respeito pela milionésima vez recentemente. Mas não era para ser. Minha mãe estava ultra-nervosa, sem qualquer condição de compreensão. Minha tia preferida recusou-se a conversar sobre o que fosse então. Cada qual saiu pela porta, cada qual em sua vez, comigo procurando entender-me com elas em vão.


Eu não queria que elas saíssem daquela maneira, com raiva e sem intenção de voltar, mesmo que eu soubesse que essa intenção não seria verdadeira enquanto aquela raiva era verdadeira de fato. Ambas voltariam, mas não voltaram naquele momento, ignorando meu chamado. Eu estava sozinha e não tinha aquela opção de ir embora para um lugar que fosse meu. Então fechei aquela porta atrás de mim, recostando-me a ela para baixar minha cabeça e permitir-me chorar, rezando por entre lágrimas para que uma mulher única para quem eu poderia apelar ainda viesse em meu socorro: Maria Santíssima. Pedi-lhe força para não esmorecer de vez e poder para conseguir ignorar meu braço avariado e minhas costas doloridas para que eu pudesse carregar minha avó ao banheiro e à cozinha e ao quarto conforme ela precisasse como eu vinha fazendo dia a dia pelos anos afora. Pedi-lhe por cortesia, paciência, sabedoria, tolerância para cuidar de uma velhinha espinhosa de sangue italiano tão geniosa quanto eu porque quem estava em uma situação pior dentre todas era ela ainda, por mais que minha situação não fosse fácil. Foi o que pedi e foi o que recebi, sujeitando-me a cuidar de minha avó enquanto arrumava e limpava sua casa, com um pouco de ajuda de minha tia preferida para pô-la em sua cadeira de rodas para o que precisasse antes de minha tia preferida sair para seu trabalho de manhãzinha. Eu ficava com minha avó pela manhã afora, dando-lhe de beber e comer, prepando seus remédios e servindo em que mais precisasse, até deixá-la acomodada e segura em sua cama, em meio de tarde, para então eu sair para meu trabalho e voltar à noitinha após mil malabarismos, com minha avó em minha mente, preocupada com quem eu deixei acomodada e segura, mas sozinha. Eu suportei esse ritmo por treze dias consecutivos. Minha avó faleceu de manhãzinha pelo décimo quarto dia, vitimada por diabetes e septicemia, após vencer três paradas cardíacas.


Minha avó não encontrou forças para retornar de seu quarto embate. Tinha sido eu quem ajudara seu socorro em casa. Tinha sido eu quem ajudara seu socorro em uma ambulância. Eu era sua acompanhante em sua entrada hospitalar, aguardando por um anúncio médico a viva-voz que nunca mais chamou-me à saleta de pronto-socorro. Foi minha tia preferida quem contou-me sobre seu falecimento, chamando meu nome à distância e revelando tudo sem palavras em um rosto choroso retorcido pela dor. Quem disse palavras de resposta ao anúncio mudo fui eu, correndo para abraçar-me a ela naquele corredor horroroso: "Ai, Jesus Cristo, tia: não !" Foi quando ela contou-me quantas paradas cardíacas minha avó enfrentara. Então foram filhas e neta chorando pelo corredor, cada qual com sua dor, embora eu não estivesse preocupada minimamente com qualquer dor ou sentimento de minhas duas tias egoístas. Fiquei abraçada à minha tia preferida por algum tempo. Então fiquei à sós naquela grade daquele corredor, em silêncio, tentando entender porque um trecho musical silencioso, que existia em meus ouvidos apenas, de "Morte de Cisne", estava tocando em minha mente sem parar. Foi quando algo semelhante a um soluço estrangulado e ressecado saiu à força de minha garganta, comigo caindo de joelhos para chorar sem ter voz para responder à preocupação de minha mãe. Levantei-me finalmente, ouvindo consolos de minha mãe, que não entendia-se com suas recomendações sobre chorar e não chorar porque minha avó estava bem naquele momento. "Como não chorar, mãe ?! Minha avó morreu, mãe ! Sua mãe morreu, mãe !" Era minha verdade pesada: minha avó era morta ! Todo restante naquele hospital foi burocracia. Todo restante naquela residência foi escolher traje fúnebre para minha avó. Tudo naquele hospital e naquela residência a esse respeito foi feito por mim e por minha mãe. Minha tia preferida fez tudo mais.


Nós todas fomos ver minha avó em seu leito de morte. Minha mãe não disse uma palavra, mas foi nosso escudo às nossas costas, para mim e para minha tia preferida, oferecendo-nos calma ao entrar conosco. Minha tia preferida foi quem descobriu minha avó para ver-lhe seu rosto, chorando e lamentando por "não ter tido tempo para lavar seu cabelinho". Ela saiu dali em instantes, acompanhada por minha mãe, que viu que sua irmã não conseguiria ficar ali por muito tempo. Minha mãe chamou por mim mas eu respondi-lhe que eu estava bem, ficando ao lado de minha avó enquanto minhas duas tias egoístas vinham vê-la. Eu lutei para não pensar em hipocrisia ao ouvi-las dirigir-se à mãe morta, afinal eu não tinha como medir-lhes sua dor de fato, mas fui única a falar com minha avó com sinceridade e sem vontade de chorar, sabendo muito bem que o que eu falara e o que eu fizera por ela fôra sincero, com mais compreensão ou com menos compreensão, mesmo quando ela não gostara. Beijei-a, falando-lhe com voz firme e não disse uma palavra para minhas tias egoístas. Minha avó pareceu-me uma bruxa-medusa cinzenta e descabelada quando olhei-a morta pela primeira vez, culpa daquela posição em que ela ficara ao morrer, que era uma resposta física de seu corpo ao choque de ressuscitação que recebeu. Reconheci que era muito semelhante a como ela ficava quando relaxava sua cabeça de boca aberta e sem dentinhos sobre seu travesseiro para dormir. Ela parecia adormecida. Fechei-lhe sua boca com carinho e cuidado, ignorando comentários de uma de minhas tias egoístas dizendo-me para não fazê-lo, respondendo-lhe que era hora de fazê-lo, pois seria impossível mais tarde. Beijei minha avó em sua testa novamente. Fui eu quem saiu por último, após cobrir-lhe seu rosto novamente, agradecendo pela atenção à enfermeira que iria vesti-la para seu funeral. Restava-nos horas compridas de velório, onde quis minhas tias egoístas longe de mim.


Nós vivemos horas compridas, muito estranhas para mim, pois eu não tinha mais lágrimas. Meus olhos mal marejaram pela tarde afora. Eu recebi cumprimentos de familiares e vizinhos, inclusive de primas que vieram de longe, de outra cidade. Não recebi consolo de primos de quem eu esperava consolo. Recebi consolo de primos de quem eu não esperava consolo. Foi ao ser abraçada e consolada por um de meus primos que eu percebi que eu não tinha mais avós. Eu tinha ficado sem avô e sem avó finalmente. Jamais tornaria a ver minha avó forte e sadia, em pé diante de sua pia velha de pedra vermelha, preparando roletes finíssimos de gnocci e separando-os em pedacinhos iguais com seu facão de cozinha para pô-los a cozinhar em água fervente em seu caldeirão borbulhante. Eu adorava vê-la preparar gnocci e tinha raiva de deus por levá-la e raiva de minha avó por ter seguido, em pé ao lado de seu esquife, sendo abraçada por meu primo enquanto abandonava minha cabeça em seu peito. Houve canto e missa em seu velório, partindo para sua sepultura em um cortejo silencioso, para repousar seu corpo junto ao corpo de meu avô, seu esposo. Seu esquife tinha oito aldravas. Tanto amigo. Tanto familiar. Tanto vizinho. Havia tanta gente ali mas não surgiu um homem que fosse para segurar aquela oitava aldrava, atrás de meu pai, que ficara encarregado de uma aldrava à altura de cintura de minha avó, onde ela era mais pesada. Eu aguardei e observei mas ninguém apareceu. Então apressei meu passo e segurei aquela oitava aldrava para carregar minha avó, cujo esquife estava adernando e poderia cair, o que eu não permitiria acontecer. Eu havia carregado minha avó em meus braços sozinha por mais de cinco anos e meio então poderia fazer esse esforço por mais um pouquinho. Pela minha avó. Pelo meu pai. Às favas se alguém julgasse que o que eu fiz era tarefa para homem. Que um homem tivesse posto seus músculos em ação antes de eu ter de tomar uma iniciativa, maldição !


Ela não está mais conosco há um mês. Nós enviamos seus remédios e suas roupas e seus sapatos para quem precisasse cinco dias atrás apenas. Eu tenho mais liberdade e mais privacidade mas não sei o que fazer com elas. Choros breves surgem de repente sem aviso algum. Sonos invencíveis, de muitas horas, têm-me apanhado muitas e muitas vezes, fazendo-me dormir em horários infantis. Talvez seja por cansaço emocional pois não tenho sido tão laboriosa assim. Eu pude sonhar com minha avó dias e dias atrás. Ela estava deitada em sua cama, acomodada, quentinha, segura, com sua cabeça em seu travesseiro, onde ela costumava deitá-la, de boca entreaberta e olhos fechados, vestida com uma roupa sóbria, à guisa de camisola, que ela nunca tivera e que eu nunca vira antes. Ela acordou para dizer-me que estava muito bem e tornou a adormecer diante de mim, com um sorriso insondável em seus lábios. Minha avó era morta. Eu acordei serenada. Talvez conformada, embora saudosa. Eu jamais desejei muitos anos de vida para minha avó desde que ela ficou viúva e sua saúde tornou-se cada vez mais péssima. Seu corpo tornou-se uma masmorra de tortura. Seria crueldade desejar-lhe muitos anos de vida em seu aniversário pois viver presa ao seu corpo daquela maneira por muitos anos não era uma benção mas uma maldição de um sofrimento indizível. Seu humor era terrível muitas vezes, vindo de alguém que mal conseguia virar-se sozinha em sua cama e não conseguia sentar-se sozinha para levantar-se de sua cama, tendo respiração muito complicada a ponto de ficar exausta e ofegante como se houvesse construído uma pirâmide naquele instante. Eu havia dito para minha mãe e para minha tia preferida, mais de uma vez, que minha avó, sua mãe, estava morrendo, mas elas pareceram não querer aceitar por não esperar esse final tão cedo, ficando caladas, sem contestar e sem responder, talvez pensando a respeito à sós silenciosamente.


Minha avó faleceu de forma que pareceu-me ser dolorosa e violenta, embora ela estivesse com rosto calmo, mesmo cinzento, parecendo dormir, tal qual eu vira tantas e tantas vezes, com sua cabeça sobre seu travesseiro. Então sua morte não fôra dolorosa e violenta: seu embate por sua vida fôra doloroso e violento, perdido por ela, mas não sem muita briga, como era natural de seu temperamento italiano. Eu espero que ela esteja bem, ao lado de meu avô, seu esposo, pelos céus, recebendo sua recompensa e seu repouso conforme seu merecimento, embora eu saiba que ela terá de responder por muitos de seus falares mais que por seus fazeres. Eu não chorei tanto por minha avó quanto chorei por meu avô, talvez por eu estar vendo-a morrer aos pouquinhos desde muito tempo atrás, em um processo complicado, irrefreável, irreversível de envelhecimento pelo qual ela foi obrigada a passar, dificultado pelas conseqüências que minha avó foi obrigada a pagar devido a muitas atitudes teimosas que ela não deveria ter tomado e não tinha necessidade de tomar. Afinal, o que uma pessoa tiver de receber pelo feito e pelo não feito trazido pela natureza será entregue com ou sem seu consentimento e sem piedade alguma, mesmo para uma velhinha, que jamais deixou de ter uma língua muito afiada. Então isto não foi diferente para minha avó. Mas eu preferiria que ela houvesse falecido em sua cama, em seu quarto, em sua residência, adormecida tranqüilamente, sendo arrebatada de nós durante seu sono, para não ter de falecer em uma maca de socorro de saleta de emergência de hospital, enfrentando quatro cargas elétricas contra parada cardíaca à toa. Entretanto continuarei feliz por não ter sido como eu preferiria, pois isto livrou-a de ser periciada em uma mesa de autópsia, que não é boa de ser vista, sequer em seu processo, sequer em seu resultado. Entretanto eu continuo sentindo alguma raiva contra deus e alguma raiva contra minha avó pelo ocorrido. Mas que seja !


Minha avó não era uma mulher com quem fosse fácil lidar. Eu ouvi muitas pragas rogadas contra mim durante meus momentos de auxílio a ela e eu sei que ela rogou muitas pragas contra minha mãe também durante seu auxílio a ela também e tudo porque nós exortávamos para que ela fizesse sua parte para ficar em pé e firmar-se para poder andar quando ela tinha forças em suas pernas ainda para ajudar-nos a cuidar de si mesma. Mas minha avó sentia-se ofendida por ser exortada a tanto provavelmente então não ajudava-nos a ajudá-la e rogava pragas contra nós com toda força e com todo gosto, com raiva em seu olhar sem qualquer disfarce. Eu não sei até que ponto sua cabecinha não permitia que ela compreendesse o que queríamos e até que ponto sua dificuldade em coordenar-se para mover-se como era necessário não permitia que ela ouvisse direito o que pedíamos a ela. O que sei foi ter sido muito praguejada à toa e ter visto minha mãe ser muito praguejada à toa, o que fez com que eu fosse muito áspera em minhas palavras para com minha avó muitas vezes, que respondia-me em moeda igual, mas não sinto arrependimento pelos acontecimentos entre ela e eu sequer por um momento pois eu estava falando e fazendo tudo o que estava ao meu alcance e em meu poder para cuidar de minha avó, mesmo que ela não cooperasse comigo por conta de si mesma, muitas vezes por não querer muito mais que por não poder. Foram cinco anos e meio em que ouvi muito mais reclamações e recriminações, além de pragas, que palavras calmas para conversar. Isto é uma razão entre minhas muitas razões para não querer ver minhas duas tias egoístas à minha frente, a não ser que eu seja obrigada pelas circunstâncias familiares inevitáveis, pois ambas trouxeram muito mais dificuldades em toda aquela situação de que deveria ter ocorrido por seu egoísmo ! Oh, existe muito a exorcizar devido aos falares de minha avó como minha obrigação pessoal ainda ...


Uma mistura fervente e poderosa de raiva e sentimento tem fervilhado em meu íntimo há muito tempo. Minha avó soube atormentar meu espírito de tal maneira que muito de que eu fiz por ela foi feito por obrigação e não por sentimento, o que foi dito a ela por mim, mas ela não prestava atenção a muito de que eu dizia, de qualquer maneira, daí seus últimos anos de vida terem sido tão complicados e dolorosos quando poderiam ter sido mais amenos e saborosos - pois ela não sentia dor embora tivesse tanta dificuldade física - se ela tivesse feito por ela mesma muito de tanto que eu lembrara e sugerira, respaldada pelas ordens médicas. Ela sentia falta de receber telefonemas de meu pai para ouvir seus cumprimentos pelo dia dedicado às avós, então eu telefonei para meu pai nesse dia em julho passado sem que ela percebesse para que ele falasse com ela a respeito. Ela mal ouviu mas meu pai cumprimentou-a como fazia antes, dois dias antes de minha avó falecer. Eu lembrei-a de que sua filha preferida estava para completar mais um ano de vida em breve, dizendo para minha avó que ela deveria estar bem para poder entregar seu parabéns e seu presente para ela. Um presente que ela costumava pedir para que eu comprasse, pedindo que eu fosse dar uma olhadinha pelo quarto de minha tia quando ela não estivesse olhando para eu verificar se havia seu perfume azul ainda. Mas minha avó não deu-me ouvidos dessa vez novamente também, vindo a falecer antes desse aniversário dessa filha. Não há como recriminar minha avó por essa "teimosia", pois suas forças terminaram em sua batalha contra seu fim, além de que eu imagino que ela foi muito forte em ter como vencer três paradas cardíacas, sem ter como retornar de seu quarto embate, o que não foi pouco. Então exasperação e orgulho misturam-se em meu íntimo sem que eu tenha encontrado consolo. Seu presente de aniversário para sua filha preferida foi entregue com carinho em seu nome por mim.