Lembranças inesperadas surgiram de repente em minha mente. Uma peça de renda que encontrei casualmente fez com que eu lembrasse de uma parente distante, mãe de uma tia por casamento, que fazia trabalhos de renda. Ela tecia tramas fio por fio, lançando uma espécie de alfinetes de madeira de cabeça grande para toda direção, em um bailado matemático muito rápido, em seqüências repetitivas iguais exatamente para formar seu padrão em cada trabalho.

Lembro-me de que eu era menininha e ficava encantada, quase prendendo minha respiração, quando eu via aquela mulher fazer aquele malabarismo artesanal, em uma velocidade admirável, sem errar, tecendo obras-primas em um quartinho modesto e quieto nos fundos de um jardim de uma casa de bairro afastado de cidade de interior, sorrindo tranqüilamente sem dizer uma palavra diante de minha admiração de menina, que não compreendia como ela não espetava seus dedos.

Tive oportunidade de conhecer muitas pessoas quando eu era menininha. Lamento que esta mulher não esteja viva atualmente. Eu admirava seu bailado de alfinetes de madeira quando menininha. Seria uma de suas freguesas atualmente, encomendando colchas, cortinas, toalhas de centro, toalhas de mesa, xales para mim, véus para festas. Ela era rendeira de mão cheia por profissão. Parece que contaram para mim menininha que ela havia conhecido cangaceiros como Maria Bonita e Virgulino Lampião.