Casa de Sil de Polaris

Porque não se fica velho duas vezes !!!

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Local: Brazil

Eu sou proprietária dessa casinha magnífica que tem sofrido reformas ... ^^

terça-feira, 8 de março de 2005

Tinha resolvido voltar para casa esta tarde, à pé, para arejar meus pensamentos um pouquinho pela chuva, quando vi um rapaz de uns vinte anos à minha frente, com blusa e calça brancas, de tênis, vendendo mel. Ou era o que dizia estar fazendo pelo menos pois eu não vi banca ou cesto ou veículo próximos que contivessem favos ou potes de mel para vender. Passei por ele pouco depois de ele sair de uma lojinha de tecidos onde havia acabado de entrar, ouvindo-o perguntar se eu queria comprar mel.

Tinha urgência em chegar à minha casa então respondi que não queria mel. Mas isto não fez aquele rapaz parar de perguntar se eu queria comprar mel, vindo atrás de mim passo a passo, perguntando sem parar se eu queria comprar mel. Comecei a ficar irritada seriamente porque aquela perseguição estúpida estava durando dois quarteirões grandes inteiros e não tinha dado sinal de estar para parar. Resolvi então que eu pararia se aquele sujeito não tinha medidas para perceber o quanto estava sendo inconveniente.

" _ Ah, quer dizer que você está vendendo mel por acaso ?"

" _ Estou !"

" _ Ah, sei ... Onde ?"

" _ Logo ali ! Vem ver !"

" _ Não. Eu já respondi para você ali atrás que não quero comprar mel."

" _ Respondeu nada !"

" _ Respondi com certeza. Mas não compraria mais nada agora depois dessa palhaçada."

" _ Você não gosta de mel ou tem algum problema ?"

" _ Tenho um problema: você. Não quero seu mel e quero que pare de vir atrás de mim."

" _ Venha ver meu mel pelo menos !"

Deu passos para mais perto de mim para pegar meu braço. Odeio que uma pessoa toque em mim sem que ela seja minha conhecida ou sem que eu tenha dado permissão. Meu guarda-chuva tinha acabado de ser fechado porque tinha parado de chover e não hesitei em colocá-lo entre nós dois como uma espada apontada para aquela garganta irritante. Mandei-o embora para vender mel para outra pessoa e vi que ele estava acompanhando a ponta de meu guarda-chuva com seus olhos.

Teria rido bastante em outra situação porque ver aquele rapaz seguir a ponta de meu guarda-chuva como quem segue a ponta de uma espada grosseiramente, envesgando seus olhos, foi cômico, mas eu já havia ultrapassado meu limite de tolerância de inconveniência alheia havia dois quarteirões grandes inteiros e não existia meio de eu perdoar aquele sujeito que queria que eu voltasse dois quarteirões de meu caminho para ver mel que eu não tinha interesse em comprar.

" _ Tem coragem de apontar esse guarda-chuva para mim, mulher ?"

" _ Tenho !"

" _ Sua mal-educada !"

" _ Volte para de onde você veio certo de que não quero seu mel."

" _ Ah, você quer brigar !"

" _ Só se valesse esse esforço, o que não é caso. Ciao !"

" _ Ah, vem cá ! Você quer brigar ! Então só se for agora !"

" _ Escute, filho de um cane: vá procurar um bêbado de bar pra rolar no chão com ele se quiser !"

Nunca vi alguém que resolvesse chamar alguém para brigar afastar-se dessa pessoa cada vez mais. Aquele sujeito pensou que eu iria correr atrás dele girando meu guarda-chuva no ar sobre minha cabeça, como se ele fosse um coelhinho encardido, no mínimo. Dei-lhe minhas costas e não ocupei-me mais dele. Não em gestos e palavras pelo menos, mas meus pensamentos estavam em fúria, querendo sangue daquele sujeito. E eu que queria arejar meus pensamentos com uma caminhada sob chuva !

Uma fúria muito grande estava avolumando-se dentro de mim e resolvi domá-la pelo bem de meu humor. Comecei a rir baixinho por alguns segundos logo mais adiante quando lembrei daqueles olhos seguindo meu guarda-chuva mas esse riso não durou muito. Fico tensa ao recordar. Sorte ninguém haver parado para ouvir e ver. Sorte daquele rapaz também. Tivesse sido semana passada e eu teria feito com que engolisse aquele guarda-chuva pela ponta até seu cabo para enganchá-lo em uma árvore feito peixe em um anzol.