Armário enorme mudado de lugar pela terceira vez em uma remontagem, muito bem encerado com óleo de peroba para madeira clara depois que aquele marceneiro foi embora e tive meu quarto de volta para mim. Varri meu quarto inteiro para tirar aquela serragem dali para poder passar trapo com pinho pelo piso frio. Hora de redecorar: cômoda e criado-mudo pela parede de cá com janela, gaveteiro pela parede de cá sem janela, minha cama com cabeceira pela parede de cá enviesando pra porta, quase de frente para meu armário enorme, tomando uma parede quase inteira para lá. Trazer objetos e roupas e sapatos de volta para seus lugares vai dar muito mais trabalho porque pretendo trocar tudo de lugar, pedacinho por pedacinho, um por um. Meu quarto está muito branco, parecendo um cadáver. Preciso colocar flores e outros enfeites coloridos pelos móveis e pelas paredes.

Foi um começo muito lento de ano. Sinto-me como se estivesse caminhando vagarosamente por um deserto escaldante com todo esse calor de verão que tem feito, apesar de tanta chuva de verão e tempestade de fim de semana que tem acontecido. Todo esse calor tem provocado uma sonolência de preguiça felina em mim. Sinto-me muito melhor à noite ou com chuva. Talvez seja por essa razão que eu amo tempestade com todos seus relâmpagos entrecruzando-se pelos céus. Rio um risinho malévolo quando vejo alguém adulto com medo de tempestade, mas consolo meus sobrinhos quando eles estão por perto de mim e vejo que eles estão assustados. Conto a eles sobre relâmpagos e trovões e respondo suas perguntinhas, explicando porque tem tanta luz e tanto som. Tenho cada vez menos dúvidas sobre se eu seria uma mamãe legal. Eu seria uma mamãe muito legal ! ^^

Uma peninha muito grande eu não ter conseguido nada de melhor para mim neste ano que começou até esse momento. Meu ano terminou com dois acontecimentos que não seriam considerados bons: um deles foi fatal e muito inesperado mas outro deles, que deveria ter trazido um mundo de desavença e discórdia, trouxe um pouco de diferença para melhor. Mas estive pagando um pouco de meu quinhão de contrariedade este ano, enfrentando momentos espinhosos onde eu não esperava haver espinheiro e vendo acontecer o que não deveria acontecer e que teria sido evitado se um fator mínimo, que não tomaria mais que um segundo para ser posto em prática, tivesse sido posto em prática. Tenho raiva de assaltante ! Mas melhor lembrar de dois conselhos gratuitos para não perder a mim mesma nesa situação: tenha um coração que nunca endurece e tenha um toque que nunca magoa.