Casa de Sil de Polaris

Porque não se fica velho duas vezes !!!

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Local: Brazil

Eu sou proprietária dessa casinha magnífica que tem sofrido reformas ... ^^

quinta-feira, 20 de novembro de 2003

Consegui fazer contato com alguns de meus amigos silenciosos. Eu espero que vocês três não voltem a ficar silenciosos novamente, ainda que isso seja muito comum. ^^ Verão chegando: estamos entrando em último mês de primavera e parece que teremos um fim de semana ensolarado se São Pedro não resolver provocar seus rebanhos de nuvens negras novamente. Quero pôr meu vestido, ora !

Fiquei preocupada extremamente dois anos atrás quando minhas regras deveriam ter vindo mas não vieram. Um ou outro atraso pela correria diária misturada com ansiedade era previsto, inclusive por meu ciclo ter sido irregular sempre, mas aquele atraso estava criando uma agonia. Foram quinze dias, trinta dias, quarenta e cinco dias e nada. Eu namorava. Sabia que todos cuidados necessários para evitar gravidez haviam sido tomados, mas ainda assim eu temia uma gravidez inesperada por saber que natureza, muito mais poderosa e voluntariosa que eu, poderia ter ludibriado meus estratagemas para ludibriá-la. Fiz exames. Três vezes. Não havia gravidez. Então o que poderia estar prejudicando meu corpo ? Eu nunca havia tido histórico de ansiedade intensa ou stress profundo então poderia descartar essas hipóteses sem medo. Mas eu não conseguia esquecer que havia algo errado com meu corpo, mais especificamente com meus ovários e meu útero. Eu havia atingido setenta e cinco dias sem menstruar sem estar grávida. Comecei a pensar que meu útero estava morto precocemente. Sonhei uma noite. Sonhei com um cortejo fúnebre, onde um caixão de tamanho infantil era carregado diante de meus olhos. Então alguém tropeçou e aquele caixão caiu, estilhaçando-se e mostrando-se vazio. Foi quando acordei e prometi a mim mesma que não iria ignorar aquela mensagem de mim para mim mesma. Marquei consulta com minha ginecologista rapidamente. Ela ouviu minhas explicações completas, fazendo exame físico e pedindo uma ultrasonografia pélvica, que eu enfrentei quase imediatamente. Mas eu estava assustada e não tinha uma mulher de minha família com quem eu pudesse conversar porque um corpo feminino era uma espécie de tabu para minhas ancestrais. Foi quando resolvi pedir colo para minhas amigas de fórum. Eu jamais teria postado minha angústia pela internet se não fosse pelo susto. Pedi-lhes uma prece por mim.

Fiz minha ultrasonografia pélvica como marcado e como pedido. Minha ginecologista queria verificar sua hipótese diagnóstica, que estava certa: síndrome de ovários micropolicísticos. Meu corpo produzia meus óvulos, mas minha taxa hormonal estava desequilibrada, então meus óvulos não eram liberados, portanto eu não menstruava. Esta situação fazia meu corpo produzir cistos que complicavam mais aquele quadro clínico. Meu médico examinador foi atencioso e profissional, atendendo a todas minhas perguntas e explicando o que mostrava sem que eu precisasse perguntar também. Eu continuava assustada, inclusive porque vi uma imagem final de ventre de paciente anterior assim que deitei-me naquela cama cirúrgica, sendo um ventre de uma mulher grávida. Uma idéia de que minhas convicções e exames estavam todos errados e eu estava grávida realmente passou-me pela cabeça naquele momento, mas tive presença de espírito de perguntar se não era informação referente à paciente anterior e meu médico confirmou meu pensamento. Ele confirmou que eu tinha cistos em meus ovários, dizendo-me que era possível que fossem transformados em câncer pelo meu histórico familiar. Eu fui muito má comigo mesma pedindo ao médico que dissesse quantos cistos havia em cada ovário. Minha forma de tentar saber tamanho total daquele problema. Ele contou um por um conforme podia vê-los, mas avisou que eram numerosos, não podendo ser visualizados com precisão, então ele não poderia contar todos. Eu estava esquecendo de ter de vestir-me rapidamente antes de uma enfermeira vir reorganizar aquela saleta de exame. Esperei meu médico sair para chorar baixinho sozinha. Eu tinha um útero estilhaçado. Saí daquele consultório com meu exame pronto, com síndrome de ovários micropolicísticos confirmada, o que soava como uma sentença de morte, tentando não chorar copiosamente porque não queria que alguém percebesse problemas.

Contei meu diagnóstico e meu sonho para minhas amigas de fórum, junto de toda possibilidade de desenvolver câncer pelo meu histórico familiar. Foi quando começaram a fervilhar posts e posts de quem queria divertir-se com meu estado físico e com meu quadro clínico, o que nunca cessou a não ser quando deixou de ser engraçado para quem tripudiava sobre esse assunto. Minha ginecologista receitou meu tratamento médico previsto para oito meses de duração. Cumpri o que foi receitado. Observei cada data e cada medicamento. Tudo como foi necessário. Meus sentimentos eram uma salada de angústia, esperança, raiva, tristeza e outros sentimentos que uma mulher nessa situação pode enfrentar. Mas eu visava minha cura, nunca deixando minha persistência de lado, transformando minha teimosia em empenho. Minha ginecologista explicou que meu quadro clínico não apresentava possibilidades de reverter em câncer de útero e que eu teria dificuldade em ficar grávida por causa daqueles cistos existentes. Meu tratamento médico visava eliminar aqueles cistos, todos, um por um. Ela fez o que pôde e eu cooperei com ela para afastar aquele fantasma chamado esterilidade que tinha vindo barbarizar minha cabecinha, comigo vendo ameaças pesadas contra minha feminilidade, minha maternidade, minha sexualidade. Eu estava vendo todas elas naufragarem. Uma raiva intermitente assaltava-me toda vez que eu lembrava que minha ginecologista havia dito "que síndrome de ovários micropolicísticos poderia acometer qualquer mulher em qualquer idade, mesmo que ela nunca tenha tido esse problema em sua vida". Soava como humor negro de Mãe Natureza de uma forma tão enraivecedora como se fosse uma piada sádica, como se eu fosse um ratinho de laboratório posto em um experimento de castração química em um dia ensolarado de sua vida fértil aos vinte e nove anos ! Eu estava sentindo-me traída por sadismo muito miseravelmente !

Eu estivera temendo uma gravidez inesperada por muito tempo para receber um diagnóstico dizendo que uma gravidez não seria possível de forma alguma para mim naquele momento. Eu estivera temendo o que eu não poderia ter tido naquela época. Cumpri meu tratamento médico. Vi minha cunhada ficar grávida pela segunda vez nesse meio tempo, com seu ventre avantajado pelo bebê, lindo como uma lua cheia, comigo chorando baixinho, escondida em um quarto fechado, em frente a um espelho, perguntando a mim mesma se teria benção de ver meu ventre parecer com uma lua cheia um dia. Eu não veria meu estado físico reverter em câncer de útero, mas ainda tinha cistos em meus ovários. Mas nunca fui de pedir uma mão de cartas melhor quando minha vida trouxe-me uma rodada ruim e nunca recebi nada que estivesse além de minhas forças para enfrentar, suportar, vencer. Não foi diferente daquela vez. Cumpri meu tratamento por oito meses como ordenado. Minha ginecologista pediu outra ultrasonografia pélvica para verificar resultados. Meu diagnóstico clínico foi de útero normalizado, sem um sinalzinho por mais minúsculo que fosse de cisto pelos meus ovários. Uma bolinha de papel, feita com a toalhinha que cobria meu ventre no primeiro exame, foi lançada ao lixo por uma mulher que arrastava-se como uma estátua de pedra: cinza e sem brilho. Uma bolinha de papel, feita com a toalhinha que cobria meu ventre no segundo exame, foi lançada dali de cima de minha cama cirúrgica, comigo dizendo: "Cesta de três pontos !!!", sorrindo para uma enfermeira que não entendeu nada de meu gesto. Minhas regras vem com regularidade suíça atualmente, o que dá-me direito de poder colocar meu filho no colo de meu avô algum dia e ver um fruto de meu ventre brincar com seu pai sobre um tapete em algum momento adiante de mim. Foi esta história que um sujeito resolveu tripudiar em duas ocasiões diferentes pelo passado recente.

Agradeço e presto consideração novamente aos meus amigos pelo apoio e prece que deram para mim. Dou esta história inteira, tal como ocorreu, aos não-amigos que souberam dela em tiras naquele blog. Termino meu relato dando esse caso por encerrado, de martelo batido e papel lavrado.

Peço desculpas aos não-amigos não-agressivos que visitam meu blog, caso tenham ficado ofendidos quando eu disse que não delegava qualquer importância aos não-amigos em postagem anterior. Eu estava fazendo referência aos que têm pendor para tripudiar esse tipo de acontecimento.

Todavia ofereço minhas boa-vindas àqueles que lêem meu blog por gostarem dele ou por simpatizarem comigo. Serão bem-vindos sempre, com chuva ou com sol, inclusive com neblina. Ou à noite para boêmios. ^^ Enfim: venham quando quiserem e se quiserem. Sejam muito bem-vindos !