Casa de Sil de Polaris

Porque não se fica velho duas vezes !!!

Nome:
Local: Brazil

Eu sou proprietária dessa casinha magnífica que tem sofrido reformas ... ^^

sábado, 20 de novembro de 2004

Encontrei um filhotinho de passarinho pela calçada. Quase esbarrei nele com meu pé, de tão camuflado que ele ficara. Era um filhotinho de pardal, quase invisível na pedra rajada de paralelepípedo da sarjeta. Andei devagarinho e cheguei muito pertinho, arriscando tudo, pensando com muita concentração: "não voe para debaixo desse carro estacionado ao seu lado, passarinho". Estava temerosa que ele fizesse isso, complicando tudo.

Um filhotinho bobinho de passarinho não tem consciência de que significa voar em direção a uma rua movimentada por carros enormes e pesados, que passam enlouquecidamente em carícias ríspidas de toneladas de metal agressivo pelas ruas. Ele atendeu, seja por coincidência, seja por estar paralisado de terror por aquele ser tão maior que ele ali ao lado, seja por ter ouvido meu desejo em pensamento sobre não querer que ele fugisse de mim.

Peguei-o rapidamente, mas com delicadeza, deixando-o imóvel e seguro em minha mão. Fazia muito tempo que eu não encontrava um filhotinho de pardal. Como pulsava aquele coraçãozinho ! Parei para ouvir em torno, lembrando de que ensinara meu avô. Seus pais estavam ali por perto, ouvindo e vendo, quase em silêncio, desesperados para fazê-lo conseguir voar de volta para seu ninho, sem ter como carregá-lo. Era muito possível entender o que significa "coração de passarinho".

Seu ninho estava no caibro coberto de uma casa ao lado. Pertinho. Dei alguns passos para o lado e passei meu braço pela grade de seu portãozinho, muito devagar em meus movimentos para fazer isso. Abaixei, inclinei e repousei aquele pardalzinho no chão delicadamente, afrouxando meus dedos para ele sair. Ele saiu imediatamente, solto pelo quintalzinho de cimento, mas seguro, piando sem parar depois de ter ficado tão quieto em minha mão.

Tenho certeza de que voltou ao ninho sem correr perigo pela rua, para onde não iria de novo. Sabia que existem seres maiores que ele pela calçada, que não voam, mas que podem pegá-lo se ele não puder voar, depois que encontrou-se comigo. Talvez tenha pensado que eu desisti de comê-lo por ele não ter tamanho suficiente para saciar meu apetite. Ele teria sol para estar aquecido naquele quintalzinho até ouvir direito aos seus pais para voar de volta para casa.