Casa de Sil de Polaris

Porque não se fica velho duas vezes !!!

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Local: Brazil

Eu sou proprietária dessa casinha magnífica que tem sofrido reformas ... ^^

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Cinqüenta meses sem meu avô, que era um homem dado a prazeres simples, tão teimoso quanto qualquer calabrês-siciliano, mas muito cordato por si mesmo - apesar de sua herança italiana. Ele adorava rir e sorrir para mim, sendo amistoso comigo quando eu era uma menininha pequenininha tanto quanto vi-o ser tantas vezes com qualquer criancinha conforme eu era crescida. Um riso encorpado e espontâneo, muito sincero e muito verdadeiro sempre.

Meu avô adorava ver minha reação infantil quando recitava suas brincadeiras de cantiga para mim. Ele ensinava-me nomes de árvores e pássaros toda vez que ele podia e toda vez que eu pedia, feliz em contar suas histórias. Uma vida campestre em cidade agrícola de interior, após toda fortuna de sua família ter sido arruinada por seu pai com negócios péssimos, com uma participaçãozinha daquela crise cafeeira, foi uma alteração imensa em seu destino completo.

Sua riqueza maior foi ser habilitado em muitas capacidades práticas de labuta de sítio, como arar e semear para cultivar campos para uma colheita farta de café, cana-de-açúcar, feijão, etc, cujas histórias ele contava para mim quando minhas perguntas traziam-lhe suas lembranças. Meu avô era travesso mesmo quando idoso, combinando seu gênio muito bem com seus relatos de suas maldades de moleque e de suas travessuras de rapazinho. Fazia-me ser sua cúmplice.

Ele ensinou-me a "chochar pão" (passar um pedaço de pão pelo prato para pegar caldinho de comida, principalmente de carne), a "pegar dedo" (mergulhar meu dedo maior dentro de uma latinha de extrato de tomate para lamber meu dedo inteiro devagarinho), a ter paciência com teimosias alheias para evitar conflitos desnecessários (principalmente teimosias alheias mal-criadas), a ver sinal de chuva em torno (para reconhecer cheiro de terra úmida pelo ar).

Meu avô ensinou-me a continuar vivendo, apesar de eu haver perdido pessoas importantes em minha vida, como ele aprendeu durante toda sua vida, pois havia perdido mãe, pai, vários irmãos ao longo de seus 82 anos de idade, casado durante 61 anos de sua vida, vindo a falecer em uma data que jamais esquecerei. Vi-o vivo pela última vez quando ele conversava com seu enfermeiro-socorrista, sendo levado aos poucos por Hipnos antes que Tanatos viesse.

Meu avô faleceu sorrindo. Sorrindo lindamente. Um sorriso que ninguém saberia reproduzir. Eu acredito que seu sorriso aconteceu em seu instante de morte, ao ver uma pessoa querida, falecida também, ou várias pessoas queridas, falecidas há anos, vindo buscá-lo em seu momento final. Eu tenho pedido que ele seja um anjo-de-guarda para mim e para toda minha família em minhas preces aos céus por ele desde seu falecimento, com carinho e cuidado.

O que eu soube que foi atendido pois meu avô estava comigo naquela calçada durante aquele assalto. Ele foi pessoa única a seguir em meu socorro, evitando males maiores em minha direção, fazendo-se ser sentido em minha alma quando minha mente ficou vazia de pensamentos. Minha mente, tão repleta de argumentos, pensamentos, raciocínios, ficou vazia completamente, então eu pude ouvir meu avô, recomendando-me cautela naquela noite.

Ouvi-o quando eu estava dando meio passo para perseguir todos eles. Uma voz sussurrou-me em meu ouvido quando minha mente estava vazia, mas aberta completamente ao invisível: "Lembre-se de sua avó !" Um aviso em um tom que meu avô utilizava para conter-me toda vez em que eu estava para cair em um impulso irrefletido em minhas reações: eu não pude nada contra aqueles criminosos, sem ter como saber o que esperava por mim esquina adiante.

Sinto meus olhos marejarem às vezes quando recordo-o, sentindo-me em falha com meu avô ainda, mas sei que ele esteve ali comigo, detendo pezinhos de sua neta temerária para evitar que eu caísse em uma armadilha ainda mais perigosa e ainda mais violenta - apesar de meu orgulho estar muito ferido pelo que foi uma esquiva temerosa para mim. Oh, espírito de alegria e bem-querer, que foi meu avô sem condição e sem exigência: sua neta está com saudades !!!

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