Uma estante de metal e vidro está colocada muito próximo à escada de entrada de nosso cemitério municipal. Mensagens de carinho e consolo são deixadas ali pelas religiões, principalmente pelo espiritismo, para confortar pessoas que perderam seus entes queridos e vêm para ali para sepultá-los ou visitá-los. Essas mensagens estão embaralhadas muitas vezes. Costumo reorganizá-las para deixar aquela estante arrumadinha, em agradecimento ao bem que aquelas mensagens trouxeram para mim algumas vezes. O que senti com doçura maior foi saber que entes queridos que partiram "continuam caminhando comigo, conquanto de outra forma", lembrando-me de que meu avô está vivo de uma outra maneira, olhando por mim como mais um anjo de guarda. Procuro atender, dentro de minhas forças, ao que vi quando li sobre "não transformar minha dor e minha saudade em fel sobre aqueles que partiram" porque seria terrível permitir que minha saudade e minha tristeza fossem transformadas em um peso sobre meu avô. Vi que não posso ser egoísta e que tenho o que fazer nesta terra e nesta vida em honra ao meu avô porque "meus companheiros procuram deus em mim". Sua forma de agir e de pensar, comunicadas e mostradas para mim muitas vezes, são meu legado mais importante, além de minhas lembranças, deixado para mim por meu avô, e isto tem de ser honrado.