Alegria foi o que senti ser roubado cruelmente de mim dois anos e meio atrás, com esta perda sendo reforçada pela tragédia mais terrível de toda minha vida em 2006, que pôs abaixo todas minhas certezas e todas minhas forças, fazendo com que eu tivesse de repensar a mim mesma para então poder repensar minha vida, redimensionando tudo à minha revelia. Ou seja: tenho de recriar minha alegria através de minhas cinzas, como um jeito de descobrir o que tenho de fênix.

"Não morrer quando ele morrer" foi o que meu avô disse que seria o que eu teria de fazer quando ele não estivesse mais conosco nesta terra e nesta vida. Tenho prometido a ele em minhas preces que irei trazer alegria para ele e para mim em minhas palavras, mas aos pouquinhos porque este pedido não é simples de atender e essa promessa não é simples de cumprir comigo sentindo esse vazio total. Então como estar viva enquanto eu estiver vivendo ?

Viajar pela minha memória tem-me trazido lembranças graciosas de meu avô, como quando ele contou-me seu sonho de estar indo visitar minha avó, sua namorada, ainda jovem, para vê-la esperando por ele à janela, ganhando um beijo dela ao chegar, ou como quando meu avô dançava valsa com minha avó em nossa sala em casa, ou como quando meu avô trocava beijinhos meigos, que eram selinhos muito breves, com minha avó em família. Toda uma doçura findada de brusco.