Casa de Sil de Polaris

Porque não se fica velho duas vezes !!!

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Eu sou proprietária dessa casinha magnífica que tem sofrido reformas ... ^^

segunda-feira, 17 de março de 2008

Complexo de Cinderela. Dilema de Wendy. Síndrome de Peter Pan. Três títulos de livros que vi sempre pelo meu catálogo de Círculo de Livro mas nunca quis comprar embora quisesse ler, pela referência aos personagens de conto de fadas, de que gostei sempre. Eu nunca comprei e nunca retirei para leitura até 2005. Esses títulos foram relembrados por colegas curiosas de faculdade anos atrás em nossas aulas de Psicologia Comportamental mas não foram recomendados como leitura por minha professora sem antes colocar muitos parênteses e muitos senões quanto ao seu conteúdo. Não quis lê-los naquela época porque eu tinha listas enormes de leitura sugerida por vários professores, que seriam matéria-prima de exames e seminários, então fui organizando e reorganizando minha lista de prioridades. Li estes três livros nestes três últimos anos finalmente, como uma tarefa não-urgente a ser realizada quando eu não tivesse mais como relegá-la. Algumas curiosidades antigas continuam com poder de matar esta gata. Oh, cáspita !

Eu compreendi porque minha professora colocou tantos parênteses e tantos senões quanto à essa leitura. São três livros que enquadram homens e mulheres em um diagnóstico pré-fabricado, como se não fosse possível escapar dele e ser de um outro modo muito mais saudável.

Complexo de Cinderela foi escrito por uma escritora filósofa, sem qualquer especialização psicoterapêutica. Ela disse simplesmente que toda mulher é uma Cinderela inevitavelmente. Ou seja: cada mulher está esperando por seu príncipe encantado para que ele liberte-a de uma vida miserável de submissão às intempéries de sociedade pelo casamento e salve-a de si mesma para que ela possa viver em um castelo maravilhoso e paradisíaco pois ela não poderia fazer nada disso por si mesma nunca. Resumindo: cada mulher nasceu sem capacidade de crescimento e desenvolvimento e realização de si própria como pessoa segundo ela. Eu pensei automaticamente assim que certifiquei-me de que havia entendido aquele tema sem sombra de dúvida: ela enquadrou cada mulher de qualquer espécie de sociedade desse mundo numa redoma de diagnóstico imposto sem direito à réplica. Ela baseou seu livro em sua experiência marital própria pelo que foi-me inevitável dar-lhe uma hipótese diagnóstica quanto a ela ser neurótica.

Dilema de Wendy foi escrito por um psicólogo clínico, que tomou um cuidado acadêmico para criar sua obra - o que deu-me confiança em ler sua criação. Ele coloca que toda mulher tem uma Sininho (mulher adulta) e uma Wendy (mulher menina) dentro de si. Ambas são mulheres de Peter Pan, mas com uma diferença fatal: Sininho manda-o catar coquinhos e Wendy não manda-o catar coquinhos e sente-se obrigada a catar coquinhos por ele, mesmo sem ele pedir. Diz que não deve restar nem Sininho apenas e nem Wendy apenas, mas uma coexistência produtiva dessa dualidade em cada mulher, ouvindo-se Sininho e Wendy quando elas manifestarem-se sem permitir que cada uma delas sabote à outra. Mas ele colocou esta dualidade como se uma mulher tivesse que cair em uma armadilha de Wendy (ser joguete de Peter Pan), como se não existisse nada mais além de um aspecto afetivo-amoroso pela vida de uma mulher pela sociedade mundial. Ele não concedeu um equilíbrio desenvolvimental à psiquê feminina neste contexto.

Síndrome de Peter Pan foi obra deste psicólogo clínico também, que tomou um cuidado acadêmico igual para elaborá-la, colocando cada homem que não for chamado às suas responsabilidades durante seu crescimento desde menininho como um Peter Pan em potencial para seu futuro (um precedente de possibilidade de esquiva para escapar de um conflito problemático psicológico que ele não concedeu para uma mulher Wendy). Um homem criado de forma a ser abandonado à sua sorte ou mimado ou superprotegido pela mãe ou pelo pai - ou por ambos, cada qual à sua maneira - terá possibilidades muito elevadas de tornar-se um Peter Pan se não acontecer um algo qualquer pelo trajeto que desvie esse rumo em sua caminhada para sua idade adulta. Ele será chauvinista, imaturo, inseguro, irresponsável, narcisista, violento, entre outros aspectos possíveis para um menino grande que não consegue e não sabe agir como um homem adulto sem uma crise total a cada passo por não saber colocar-se em sua sociedade.

Vi que cada um desses três contos de fadas foi utilizado de uma maneira negativa, apropriada para sustentar essas hipóteses diagnósticas e suas teorias. Eu ouvi e vi muitos contos de fadas, inclusive lendo original de Irmãos Grimm para vários deles. Cinderela, Peter Pan, Wendy não eram como descritos nestes trabalhos literários posteriores. Cinderela foi ao encontro de seu príncipe, dando um passo inicial para seu casamento. Peter Pan foi tão viril quanto um espírito de aventura e liberdade representado por ele poderia ser. Wendy foi tão maternal como amiga e irmã mais velha quanto uma menininha seria instintivamente. Além de que isto pareceu-me um rebatizado trapaceiro muito conveniente, vestindo outro traje, em um diagnóstico clínico cuja criação é antiga e de outrem, chamado desajuste de comportamento, cujo grupamento de diagnóstico contém várias hipóteses clínicas e médicas para casos comportamentais. Há mérito nestes três livros mas todos são limitantes por enquandrar sociedades inteiras em redomas.

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