Estive com meu avô ontem à tarde, vendo documentos importantes que ele guarda em uma pasta velha verde em seu quarto. Vi registro de casamento de meu bisavô, pai dele, bem como seus documentos para regularização de registro de imigração para comprovar idade e profissão, vindo de Reino de Itália aos vinte e seis anos de idade, em plena Primeira Guerra Mundial. Terminei descobrindo que foi meu bisavô quem abrasileirou meu sobrenome italiano. Ele deve ter feito isso para amenizar suas dificuldades como imigrante, mas seus descendentes perderam sua cidadania italiana com esse gesto.

Homem valente este meu bisavô. Teimoso como um diabo ensandecido também ! Talvez pensando que "la vendeta es um piatto che se manja fredo" como todo italiano de sangue quente que se preze. Minha bisavó era carinhosa e cordata, vista como uma santa muito amada por meu avô, um de seus filhos mais velhos. Vi sua ascendência ali naqueles documentos, filha de pais austríacos e neta de avós austríacos, região de Tirol provavelmente, território italiano sob posse austríaca graças às guerras. Uma mulher inteligente e valente à sua maneira, mais delicada que violenta.

Vi um registro de nascimento e um registro de casamento de meu avô. Adorei o nome de minha bisavó materna escrito ali naqueles registros antigos, de letra elegante e floreada, com intenção de parecer lindíssima mas sendo quase incompreensível com tanta voltinha fútil. Um nome belíssimo, italiano por completo. Tão forte quanto ela. Tão lindo quanto ela. Tão passional quanto ela em suas decisões finais, que exigiriam muita valentia porque ela tinha toda consciência de que faria e não eram passos fáceis para dar mas eram tudo o que ela sentia que ainda poderia fazer. E fez ! Uma ragazza intimorata !