Casa de Sil de Polaris

Porque não se fica velho duas vezes !!!

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Local: Brazil

Eu sou proprietária dessa casinha magnífica que tem sofrido reformas ... ^^

terça-feira, 21 de fevereiro de 2006

Faz quinze dias que vim à pé por uma rua sinuosa de minha cidade que tem tanto perigo quanto qualquer rua de qualquer cidade. Não era muito cedo e não era muito tarde. Todo relógio não marcaria mais que três e meia da tarde. Vinha de casa de meus avós, com quem estive por uma semana, saindo em um horário em que não havia sol forte que pudesse ser perigoso. Comecei a ouvir uma altercação conforme eu entrava por aquela rua. Tentei localizar por algum tempo porque era um som de voz que ou abafava ou ecoava. Identifiquei um casal dentro de um carro, na calçada oposta. Parecia uma brincadeira ou uma discussão, mas eu não tinha conseguido discernir o que era ainda. Continuei meu caminho, diminuindo meu passo, olhando direitinho, prestando atenção. Olhava meu caminho e olhava um carro azul metálico. Parei algumas vezes pela calçada, olhando sem ter certeza porque aquela altercação não tinha continuidade, começando para parar logo para recomeçar depois. Eu tinha ultrapassado aquele carro, naquela rua quieta, quase deserta, de um domingo à tarde. Não parava de olhar aquele casal dentro daquele carro azul metálico. Não gostei do que ouvi. Não gostei do que vi. Voltei alguns passos em direção deles. Foi olhar se havia algum carro vindo antes de eu atravessar aquela rua e passar em frente ao carro, perguntando à moça desde qua alcancei a calçada oposta se ela precisava de ajuda.

Quem respondeu primeiro foi o homem, um rapaz musculoso metido a valentão, dizendo que ela não precisava de ajuda porque não tinha nada errado. Mas aquela menina pediu minha ajuda e isso foi quanto precisou para eu ajudar. Comecei a discutir com aquele sujeito, dizendo para ele deixá-la sair daquele carro, mas isso era tudo o que ele não queria fazer, jogando seu corpo pesado em cima dela, prendendo seu corpo contra o banco com seu cotovelo, para evitar que ela conseguisse sair. Meu primeiro impulso foi tirar aquele monte de metal de minha frente. Era um carro velho de trava manual, com vidro aberto. Eu estava do lado do passageiro onde ela estava. Abri sua porta tão logo tirei sua trava e falei para ela sair. Mas aquele sem-vergonha desclassificado tornou a jogar seu corpo sobre ela, cravando seu cotovelo nas costelas da menina, não deixando que ela descesse. Montou sobre ela e remexeu no bolso de sua roupa até encontrar um anel de compromisso porque ele queria provar para mim que ela era sua namorada, portanto eu não deveria intrometer-me naquela história. Ele achou esse anel de compromisso. Ou o que parecia ser um anel de compromisso. Queria calar minha boca e expulsar-me dali. Lembro muito bem o que disse para aquele maldito: "Isso é um anel de compromisso. Isso faz de você namorado dela. Não dono dela. Ela está chorando. Você percebeu isso ?!" Ela não disse uma palavra sobre ele ser seu namorado realmente. Não negou mas não confirmou também.

Como eu queria arrancá-la dali mas não havia jeito, mesmo de porta aberta. Ela não tinha movimento, ele não saía de cima dela, não vinha uma pessoa ou um vizinho, sequer um carro, naquela rua deserta infeliz. Eu não podia contornar aquele carro senão aquele maldito trancava de vez aquela porta. Eu não tinha conseguido ver sua placa além de sua sigla. Não tinha como conseguir tirar aquela menina dali conosco em posição de desvantagem, com aquele maldito ora jogando seu peso em cima dela para ela não sair, ora tentando dar partida em seu carro para fugir dali. Falava a todo instante com voz de mando para eu fechar aquela porta, o que eu negava em tom igual. Ele não teria o que fazer contra ela mais do que já fizera enquanto tivesse que se ocupar comigo. Uma mulher passou do outro lado da rua. Pedi sua ajuda para resolver aquele problema. Que ela chamasse pela polícia ou viesse até ali para ajudar-me a fazer aquela menina conseguir descer. Ela negou imediatamente, sem falar, andando mais depressa e olhando para baixo. Uma mulher negou ajuda para outra mulher naquela situação, pelo ventre materno ! Eu intervi porque aquele maldito estava tentando violentar aquela menina dentro daquele carro naquela rua deserta e não teve uma alma solidária que viesse ajudar quando alguém mais passou por ali finalmente ! Ai, que ódio, que ódio, que ódio, que ódio, que ódio ! Aquele maldito começou a falar que iria levá-la pra casa dela de carro, o que ela não queria.

Passou para seu banco mas não deixou que ela saísse, cravando seu cotovelo nas costelas dela toda vez que ela tentava sair. Eu não tinha como contornar ou como entrar ou como tirá-la de lá sem dar mais vantagem para aquele maldito com seu carro. Não pude fazer melhor do que fiz, discutindo com ele e não fechando sua porta enquanto tentava tirar aquela menina dali. Como senti falta de um punhal para fazer barba daquela garganta e tirar um fio de sangue só por encostar minha lâmina nela ! Aquela menina estava apavorada. Tinha entre seus dezesseis e vinte anos. Ninguém apareceu para ajudar ou quis ajudar. Ele deu partida em seu carro, afastando e avançando para sair daquela rua, sem se importar com ela e comigo por causa daquela porta aberta. Não fui derrubada para ser arrastada pela rua por muito pouco. Escapei porque fui rápida, dando um passo pro lado e um passo pra trás. Mas fiquei com uma marca roxa de quina de porta de carro baixo, estacionado em sarjeta baixa, que foi encravada em minhas costelas pelo movimento daquele carro. Tentei anotar sua placa, mas continuei sem nada além de sua sigla. Tudo o que pude fazer por ela foi bater aquela porta finalmente porque ela estava sem cinto de segurança e ele fez curva a toda, pouco importando-se se ela poderia cair daquele carro. Procurei por sinal deles em todas três ruas próximas por onde não era contra-mão. Não vi mais nada. Ninguém viu mais nada. Rezava por ela pelo caminho todo, sem parar.

Não consegui localizar aquele carro novamente. Rezei pelo caminho todo que eu fazia para que eu tivesse conseguido assustar aquele maldito pelo menos, fazendo-o pensar que outra pessoa em outro lugar poderia intervir também como eu intervi e então ele poderia terminar mal. Pedi muito para que esse pensamento ficasse na cabeça dele e que ele levasse mesmo aquela menina para casa, como disse que faria, e que ele fosse mesmo namorado dela até ela descer em sua casa para não vê-lo nunca mais. Contava com o fato de ele não ter sido estúpido como um bandido, o que mostrava que ele não era um marginal, embora estivesse sendo canalha e criminoso com aquela menina. Sentia raiva de mim pelo caminho inteiro por não ter conseguido fazer nada melhor e por não ter conseguido tirar aquela menina dali. Tinha tanta raiva que não prestava atenção à dor em minhas costelas, cujo hematoma vi em casa ao tomar um banho. Minha mãe e meu pai não tiveram dúvida de que havia acontecido alguma coisa séria quando eu entrei. Minha mãe perguntou o que era. Meu pai ficou esperando pela minha resposta. Contei o que aconteceu. Minha mãe ficou assustada e inconformada com o que fiz. Meu pai ficou silencioso como eu nunca vi. Todos dois concordaram que eu arrisquei bastante. Claro que eu arrisquei bastante ! Tinha que arriscar porque aquela situação não aceitaria menos ! Procurei notícias daquela menina nesses últimos quinze dias mas não encontrei nada, nem de bom, nem de mau.

Poderia ter acontecido de eu ser baleada ou esfaqueada, mas isso não foi de importância alguma para mim. Sequer lembrei dessa possibilidade. Mas enfim, balas ferem e facas cortam mas qualquer dor que provoquem não vai durar para sempre. Alguém tinha que intervir e foi o que eu fiz. Minha mãe disse que eu não fiz nada de bom para aquela menina. O que dói nesse comentário de minha mãe é o fato de ela estar certa. Eu não pude fazer nada de melhor e não pude tirar aquela menina daquele carro. Tudo o que pude fazer foi rezar para ter assustado aquele maldito e ter tirado todo tesão dele sobre fazer qualquer mal a ela. Meu pai disse que eu arrisquei demais porque eu entrei em uma altercação em que tudo não estava ao meu favor. Excelente foi ver que ele não estava recriminando minha atitude, mas tentando dar-me uma lição de estratégia de guerrilha, que eu aproveitei mal e mal, tensa pela lembrança daquela menina. Vivemos em uma sociedade belíssima mas muito violenta, como cada sociedade foi belíssima e muito violenta antes de nós, cada qual com seu estilo em sua época. Mas fico inconformada ao ouvir e ver tanta gente reclamando dessa violência, dizendo que alguma coisa precisa ser feita, mas não fazendo nada absolutamente porque está esperando que outra pessoa comece a fazer alguma coisa, sem qualquer ajuda de outros, sendo capazes de negar sua participação quando surge oportunidade de combater essa violência. Covardes hipócritas !

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