Ah, quem disse que eu não sei cuidar de uma casa ? Foi minha mãe quem disse ! Mas ela estava enganada. Sei cuidar de uma casa muito bem. Consegui prova disso quando fiquei cuidando sozinha deste consultório, que está em uma casa térrea, realizando suas tarefas domésticas para deixá-lo arrumadinho. Faxinei banheiro, corredor, cozinha, quintal, saleta e tratei de preparar meu almoço depois de um banho muito bem tomado: lamen de carne com legumes.

Tenho raiva plena de que fiquem palpitando em meu serviço quando estou cuidando de minhas tarefas domésticas, o que minha mãe adora fazer. Odeio lavar louça. Odeio passar roupa. Mas farei estas tarefas toda vez que precisar. Prefiro varrer uma casa inteira. Foi meu serviço doméstico preferido desde que soube que ele existia. Mas minha mãe diz que eu preciso aprender a varrer mais depressa, sem ficar fazendo carinho no chão.

Por quê ? Detesto fazer qualquer coisa com pressa. Costumo fazer meu serviço rapidamente mas não imprimo velocidade a ele como se eu estivesse sendo perseguida por uma manada de elefantes ensandecidos. Gosto de saborear meu serviço. Não tenho pressa em varrer. Ponho carinho em minha vassoura para não deixar escapar nenhuma poeirinha. Principalmente quando varro meu quarto. Resultado: minha varredura termina melhor que qualquer outra varredura.

Regar plantas de canteiros e jardins é um serviço doméstico de que gosto muito também, mas não considero-o como serviço doméstico: considero-o como um prazer. Uma pena irreparável terem exterminado meu canteiro de alices, com hortências e rosas de minha mãe, para fazer aquele corredor de cimento. Meus buquês coloridos miniaturas e nossa quaresmeira roxa foram mortos por esses pedreiros assassinos também em nome de uma calçada e de uma garagem.

Tudo o que existe de plantas em casa atualmente está representado por vasos e vasos de lírio-de-vale que minha mãe esteve cultivando e replantando para multiplicar suas plantas em vasos sem conta. Mas enfim: sei cuidar muito bem de uma casa mas não morro de amores por serviço doméstico desde sempre. Prefiro fazer qualquer outra coisa. Sou muito Artêmis e pouco Deméter. Mas sou Deméter suficientemente para cuidar de que e de quem precisar de mim.

Um gênio muito mais aventureiro que caseiro habita em mim. Gosto de ir a supermercados mas eles nunca seriam meus programas preferidos de fim de semana. Aliás são lugares excelentes onde encontrar um exército de gente estressada. Prefiro caminhadas pela avenida, pelo bosque, pela calçada, pela montanha, pela praia. Faz onze anos que fiz uma excursão pela última vez, o que não é aceitável sequer minimamente. Tem mais de um ano que não vejo praia. Uma droga !