Fim de tarde quando eu voltava para casa pela minha avenida preferida. Estava caminhando tranqüilamente, com metade de meu trajeto feito, quando uma garrafa grande inteira espatifou-se pela sarjeta ao lado de meus pés. Não houve nada comigo, a não ser respingar de líquido que não era água, em meus pés e tornozelos, por cima de minhas sandálias. Um motorista bêbado resolveu jogar sua garrafa pela janela quando passou ao meu lado com velocidade reduzida graças ao semáforo adiante. Inflamei imediatamente.

"_ Que idéia foi essa seu irresponsável ?!"

"_ Você está falando comigo ?"

"_ Estou ! Como você atira uma garrafa pela rua desse jeito ?!"

"_ Não amola, sua vadia !"

"_ Barbeiro. Bêbado. Irresponsável. Machão. Metido. O que mais ?!"

"_ Sua vadia ! Você está falando comigo ?!"

Semáforo verde para carros. Ele foi adiante. Pensei que fosse embora de vez pouco importando-se com o que havia feito. Vi que ele estava dirigindo devagar, em um zigue-zague de movimentos curtos, quase parando. Ele estacionou enviezado, cometendo mais uma infração de trânsito, na esquina em frente à esquina onde eu estava, esperando-me atravessar. Olhava para mim com uma expressão de fúria louca. Ele poderia descer de seu carro ali e vir contra mim para agredir. Pensei por cinco segundos antes de aceitar aquele desafio.

"_ O que foi que você disse para mim ?!"

"_ Que você foi um irresponsável jogando garrafa pela rua desse jeito, filho de um cane !"

"_ O que ... Escuta, você está falando comigo ?!"

"_ Ora, mas claro que não ! Estou falando com esse descerebrado sentado diante desse volante !"

"_ Sua cachorra, cadela, prostituta, sem-vergonha, vadia !"

"_ Valentão imbecil !"

Ele falava comigo afastando e aproximando seu carro, sem descer, vendo o quanto eu tinha coragem de chegar perto. Estava a três passos de seu carro. Foi quando ele deu marcha-ré e seguiu em frente, cuspindo ofensas e fazendo gestos obscenos tanto quanto seu carro e seu estado permitiam. Tão poderoso com seu carro e tudo para fugir dessa maneira depois de largar cacos uma esquina atrás ! Lamentei não ter moído aquele homem. Valentão de fim de feira !

Não senti uma cadeira que empurraram contra minhas pernas em uma discussão de comunidade da última vez que um homem fez-me ficar leonina desse jeito. Não tinha fibra em meu corpo que não estivesse cem por cento em ponto de bala para quebrar aquele valentão de fim de feira ao meio. Seria atacada por ele tanto quanto eu atacaria, mas isso faz parte de qualquer corpo a corpo de que se tenha notícia. Recuso-me a ceder e recuar porque meu oponente é maior e mais forte que eu. Habilidade para nocauteá-lo eu tenho, cáspita !

Tem algum tempo que decidi que não irei mais aceitar ofensa de homem algum pelo fato de ele pensar que tem esse direito por ser homem. Posso encontrar quem dê-me uma facada ou um tiro um dia mas não cedo um milímetro. Pastor que muito cede ao lobo torna-o audacioso além de qualquer limite. Portanto sem perdão ! Principalmente se ele não reconhecer sua falha e quiser ser valentão ! Tenho encontrado muito exemplar masculino que não presta em absoluto ultimamente, o que deixou-me com muita raiva de homem !

Uma mulher não pode dar-se ao luxo de ceder covardemente aos homens e suas besteiras palermas, aceitando quietinha por ele ser mais forte fisicamente que ela. Posso morrer massacrada mas não aceito um "A" torto para mim nunca mais. Não submeterei características boas, como inteligência, à força. Para nada. Pedra ainda pode mais que vidro, por exemplo. Quebro tudo contra uma parede na próxima vez que estiver tentando abrir um vidro de palmito ! Ou usam sua força como deve ser feito ou não serão mais que ratos !