Casa de Sil de Polaris

Porque não se fica velho duas vezes !!!

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Eu sou proprietária dessa casinha magnífica que tem sofrido reformas ... ^^

sexta-feira, 21 de maio de 2004

Paixão de Cristo, com Jim Caviezel, por Mel Gibson. Fui assistir depois de comer uma barra pequena de chocolate ao leite no shopping. Classificaram esse filme como drama no jornal. Não concordo. Não é um drama. Tem muitas cenas intensas mas não é um drama, muito menos um drama no sentido negativo que essa palavra adquiriu. É um épico bíblico sagrado. Minha mãe perguntava insistentemente se eu tinha ido assistir. Talvez porque ela saiba que tem feito anos que eu não faço uma leitura bíblica. Ela havia assistido, sozinha, o que estranhei porque ela não gosta de cinema e não gosta de sair sozinha. Mas Jesus Cristo teve condão de fazê-la ignorar ambos estes empecilhos postos por ela mesma em seu caminho. Disse-me que não havia nada naquele filme que justificasse mortes por ataque cardíaco. Mas minha mãe avalia esse ponto pela visão de quem não tem problemas coronários e tem um pouco de coração de pedra. Quem emociona-se em excesso com cenas violentas, associadas ao sofrimento de Jesus Cristo, corre risco de sofrer um ataque cardíaco se tiver predisposição física para tanto. Não foi caso para ela e para mim. Mas é um filme comovente e impressionante com cem por cento de certeza, sem anti-semitismo, sem excesso, sem sensacionalismo. Crucificação após tortura prolongada não é algo suave.

Parabéns a Jesus Cristo. Ele era um homem forte, de cabelos negros e olhos negros provavelmente porque este é o típo físico de um galileu, não aquela versão renascentista romantizada, de cabelos loiros e olhos azuis, com perfil europeu de pele branca e corada. Foi uma representação artística muito popularizada de como um cordeiro divino de personalidade suave seria em forma humana, mas nunca corresponderia à realidade, estudada em colégio através de meu professor de religião. Jesus Cristo tinha de ter um porte vigoroso para andar como andava, percorrendo distâncias bárbaras em território inóspito de toda região natal e adjascências. Ele sabia que não seria uma prova fácil que teria de enfrentar. Seu criador sabia também, por isso deu-lhe físico e mental preparados suficientemente para enfrentar um inferno completo que iriam impor a ele. Não foi à toa que ele pediu docemente e em lágrimas para que aquele cálice fosse afastado dele. Era um fardo terrível demais ! Mas ele era um servo forte muito obediente antes de mais nada. Ele poderia pedir para não sorver esse cálice, mas nunca recusaria o que foi-lhe pedido por seu pai. Foram três dias de inferno, sob várias formas, que ele enfrentou desde sua prisão quinta-feira à noite, no Monte de Oliveiras onde fazia sua prece.

Todo seu martírio é uma sucessão de exemplos de quanto sofrimento um ser humano pode infligir a outro ser humano por crueldade e egoísmo, sem qualquer sentimento de justiça. Eu adoraria que todos pudessem perceber nesse filme que Jesus Cristo foi crucificado após ter sido torturado pelos fariseus e romanos, com uma ajudazinha de judeus pagos, muitos deles mendigos ou pobres miseráveis, que aceitaram moedas que mal amenizariam seu sofrimento por tempo exíguo em troca de levantar falsidades contra um ser humano para condená-lo à morte. Que todos pudessem perceber isso e nada mais que isso para que não houvesse mais aquele pavor que vi estampado nos olhos do rabino líder judaico nesse país, aterrorizado por uma possiblidade de perseguição anti-semita. Não se condena alguém pelo que outros fizeram. Ter nacionalidade igual não implica em culpa por um crime antigo. Crime pelo qual uma retaliação não deve ser cobrada porque esse crime era previsto pois tinha sido planejado por quem criou este universo. Tudo foi conduzido para este desfecho lentamente, por muitos e muitos anos, desde aquele primeiro deslize humano em toda criação. Conseqüências implicam em consequências, terríveis como esta às vezes, em que um ser humano maravilhoso torna-se uma duplicata sacrificial em nome de toda humanidade.

Um ambiente miserável gera atitudes miseráveis, mesmo que lírios possam brotar pelo lodo. Esse martírio não teria sido menos terrível se tivesse ocorrido em outro lugar, mais verde que fosse e não tão cortante e ressequido quanto pedras cinzentas escaldantes de um monte chamado Gólgota. Teria sido diferente, mas não menos terrível. Uma crucificação não foi criada para torturar Jesus Cristo. Era um instrumento de execução bastante antigo, destinado a ladrões principalmente. Assisti com tranqüildade, mas confesso que fiquei tensa muitas vezes. Chorei uma vez, quando Maria Santíssima correu para ajudar seu filho caído, como fazia quando ele era menininho em seus tombos de infância sobre pedra inclemente. Chorei porque fiz minha identificação com ela, que corro para socorrer Leo, meu sobrinho de seis anos, quando ele corre risco ou tem um acidente infantil. Ela foi um exemplo de docilidade obediente à toda prova também e teve seu coração transpassado por uma espada literalmente embora em linguagem figurada. Eu jamais iria concordar em gerar um filho para que ele fosse executado terrivelmente para salvar uma legião de almas, por mais ou menos merecedoras que elas fossem. Outra ocasião em que chorei pela paixão está muito distante. Eu tinha dez anos. Era época de catecismo. Chorei em uma missa pascal enquanto lia minha parte naquela réplica de paixão em que o povo grita "crucifica-o !" porque eu não queria dizer para crucificar Jesus Cristo mas havia sido ensinada a participar de missas direitinho. Tinha de dizer minha parte para ser direitinho. Três vezes ! Eu dizia chorando. Não foi uma experiência edificante.

Aqueles atores que fizeram papel de soldados romanos que crucificaram e torturaram Jesus Cristo foram caprichosos e empenhados, principalmente dois deles que cuidaram de chicoteá-lo, com expressões de prazer intenso, muito profundo e sádico (você tinha razão, Daniel !). Foi interessante poder diferenciar palavras em aramaico e latim. Um latim muito próximo ao italiano também. Uma frase de admiração incrédula pela resistência física de Jesus Cristo, dita por um de seus torturadores que havia acabado de chicoteá-lo com brutalidade sem censura, foi dita em um latim-italiano perfeito, que ouvi muito bem e sem erro ! Uma passagem desse épico que acorda minha ira sem falhar é aquela cena em que fariseus, povo, soldados e até o ladrão mau riem de Jesus Cristo, exortando-o para descer daquela cruz se ele for filho de um deus realmente. Juro que eu queria que ele tivesse descido ! Seria um cala-boca incomensurável para toda aquela gente. Uma crucificação é uma tortura terrível, que causa sofrimento inumano, independente de quem esteja pregado à cruz. Uma pessoa demora horas, que talvez completem dias, para morrer nesse tipo de execução, sofrendo diabolicamente. Fazer chacota ao pé de uma cruz dizendo ao supliciado para descer dali, o que não esperam sob toda razão humana que seja possível mas era possível para ele, é de uma crueldade jocosa ordinária sem precedentes ! Jesus Cristo não havia deixado de ser divino, por mais abandonado que estivesse e por mais humano que fosse também. Mas havia sido destinado a ele que morresse humanamente para salvar filhos humanos de seu pai divino, por mais divino e humano que ele próprio fosse.

Adorei aquela cena final, em sua ressurreição, quando seu corpo surge forte, lindo, sadio, nu completamente em sua beleza divina e humana, com aquele sorriso suave de glória e vitória, com felicidade simples e sem soberba alguma, mesmo com todo aquele poder incomensurável que ele tinha como deus e filho de um deus. Perfeito ! Jesus Cristo foi um Bruxo Supremo, que fez o que bruxos e outros humanos tanto desejam fazer: acalmou uma tempestade, andou sobre águas bravias, deu luz aos olhos dos cegos, deu som às gargantas dos mudos, expulsou demônios, multiplicou pães e peixes, pescou fartamente ao seu talante, ressuscitou mortos, teve autoridade sobre demônios, transformou água em vinho, trouxe cura aos leprosos e outros doentes e muitos outros atos maravilhosos. Ele fez o que foi destinado a nós fazermos também, com autoridade dada aos apóstolos e discípulos igualmente, mas nunca houve notícia de um ser humano, mesmo apóstolo ou discípulo, que atingisse esse grau de excelência de Jesus Cristo. Isto porque nenhum outro filho de deus soube ser tão uno a ele. Uma máxima continua existindo, assim como foi antes, dita por um padre velhinho que talvez já tenha morrido, ao celebrar suas missas: "Diante do nome de Jesus Cristo se dobre todo joelho !"

"Adonai". Adorei como essa palavra soou, meigamente, nos lábios e na voz de Jim Caviezel, que era Jesus Cristo naquele momento. Uma voz suave que demanda um jugo suave e traz um fardo suave. Ele deve ter dito essa palavra assim, muitas vezes, quando esteve vivendo sobre essa terra. Sei que não sou uma de suas melhores filhas porque não estive fazendo tanto quanto eu poderia toda vez em que eu pude. Seria mentira dizer que tenho tentado porque não deve restar mais nada de santificado em mim pelo espírito santo em forma de água, óleo e pão que recebi em sacramentos católicos. Eu não tenho tentado. O que faço de bom e de mau vem naturalmente como vento soprando. Nunca lembro de pensar se estou agradando a deus ou ao diabo. Não sei como será meu julgamento quando for minha vez de comparecer ao tribunal, mas sei que será mais suave que qualquer julgamento que eu tenha feito sobre meus irmãos por mais pesado que seu julgamento sobre mim possa ser, Adonai.

Que assim seja e assim se faça.
Uma máxima wicca que significa "Amém".

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